Faz tempo que não escrevo uma crônica, mas hoje aconteceram alguns eventos musicais na minha rotina que tem muito a ver com a temática do blog e me animei em compartilhar.
Sou aprendiz e isso quer dizer que minha carga horária se divide em atividades práticas e teóricas. No treinamento de hoje participei de um ensaio para um evento especial de Natal. Eu, meus colegas e outras turmas cantaremos músicas natalinas na rua. Só falta decidir se no Vale do Anhamgabaú ou na escadaria do Theatro Municipal.
Grande parte do alunado acha essa coisa de cantar meio (sei lá o que acham, pois pra mim é coisa séria)... O ensaio foi levado a rédia curta e foi difícil para o Maestro contornar o falatório que reinava a todo momento. Muitos ali nunca tiveram experiência semelhante, então, esperar um comportamento mais centrado seria perca de tempo. Resumindo: o que pensei ser uma ótima oportunidade para alegrar nossa rotina de aulas, exercícios e dinâmicas, não passou de um passatempo para muitos. Chegou um certo momento que eu me perguntava as horas repetidamente e quando não sentimos o avançar do tempo é porque algo está incômodo.
A saída se deu as 14 horas. O dia estava nublado e dali a pouco cairia chuva. Sempre volto pra casa de ônibus e eis que tive uma bela surpresa... É comum que artistas de rua se apresentem na região da São Bento, mas o rapaz que tive a oportunidade de prestigiar hoje não costumava bater ponto pela região, porque do contrário, teria notado e puxado assunto antes! Estatura mediana, cabelos longos e claros, barba, vestimenta pomposa, uma gaita ao alcance da boca e um violão estilo folk, era possível ouvir um rock clássico. O equipamento não era dos melhores, mas ainda sim a voz tinha estilo. Reconheci "Stand By Me" seguida por "Imagine" , ambas do grande John Lennon. A frente do jovem havia um chapéu preto sobre um tapete verde solitário, convidando a quem se sentisse a vontade a deixar sua colaboração.
Parei na hora de ouvir meu MP3 e assisti o pequeno show durante uns dez minutos. Naquele momento refleti o quanto era importante sair do mecânico e confraternizar com todos que estavam ali, além de poder incentivar alguém em relação a música. Deixei minha singela contribuição e continuei meu caminho até o Terminal Parque Dom Pedro II.
Poder ter um intervalo nessa correria caótica de São Paulo e dar valor ao que realmente merece é algo raro de se acontecer. Consegui driblar o descaso que muitos tiveram com a Música durante a manhã percebendo que há públicos e públicos. Por mais que os brasileiros estejam acostumados a consumir de um mercado musical que oferece pouquíssima qualidade, ainda há luz no final do túnel. Talvez eu possa ser mais uma ingênua que tenta nadar contra a maré por fazer parte desse mercado, mas enquanto eu agir de acordo com o meu pensamento e poder cativar os demais, podemos mudar cenários. Estamos em São Paulo. Já reparou como esta cidade exala Arte? E se você não mora aqui, já deixou seu olhar alienado um pouco de lado para prestar mais atenção nas vozes que te rodeiam? Você pode se surpreender. É só se dar uma chance.
Ah, antes tarde do que nunca: Feliz dia do músico a todos nós!